Se o consumo cai, por que os preços sobem?



As crises nos cenários político e econômico têm pressionado a inflação no Brasil há um bom tempo. Com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 10,3% nos últimos 12 meses e diante das incertezas do país, as perspectivas sobre os rumos dos preços seguem divergentes. Mas afinal, quais foram os principais fatores que levaram a inflação a atingir o atual patamar e o que se pode esperar da variação para os próximos meses?

Existe uma visão otimista que acredita que a inflação ficará 6,5%, em 2016. O principal argumento favorável é referente aos preços administrados, que devem ter menos reajustes esse ano. No entanto, com o agravamento da atual crise política, a expectativa do dólar para os próximos meses continua a aumentar. Segundo o Relatório Focus do Banco Central, as instituições financeiras pesquisadas projetam o dólar a R$4,25 em 2016.

Do ponto de vista pessimista, somado às justificativas anteriores está o desequilíbrio fiscal. Com a possibilidade de o país estar entrando em dominância fiscal – situação em que o aumento dos juros já não gera mais efeito sobre a inflação –, a necessidade de realizar um ajuste fiscal torna-se cada vez maior. Esse ajuste consiste em cortar despesas do governo e elevar a arrecadação.

Um dos principais meios cotados por Nelson Barbosa, atual ministro da Fazenda, é a volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A volta desse imposto, que foi extinto em 2007, é vista pelo produtor como um aumento nos custos que, mais uma vez, será repassado ao consumidor.

De um modo geral, a alta dos preços na economia pode ser motivada por três fatores:
a) Quando a procura por produtos se eleva sem que os ofertantes consigam suprir esse aumento. Eis a inflação de demanda;
b) Quando ocorre um aumento na emissão de dinheiro desproporcional ao produto de um país, os preços tendem a aumentar. É a chamada inflação monetária;
c) Quando a demanda permanece constante, mas os custos de produção do ofertante se elevam, os produtores tendem a repassar esse aumento aos consumidores, resultando em um aumento de preço. É a chamada inflação de custos.

A inflação que atinge o país nos últimos meses é um resultado dos três fatores, mas a de custos representa uma parcela maior na atual conjuntura. Em especial, a dos preços administrados.

Diferente dos preços livres, os preços administrados são controlados por algum órgão público. No Brasil, os preços de produtos derivados do petróleo, serviços telefônicos e eletricidade são exemplos de preços regulados por órgãos federais.

Nos últimos dois anos, o Brasil teve menos chuvas do que o esperado –ou seja, o governo precisou gastar mais com o uso de energia proveniente de termelétricas.

Diante de um ano eleitoral, o governo evitou ajustar as tarifas de energia elétrica e isso foi repassado posteriormente. Em 2015, a média do aumento da conta de luz entre as cidades do país foi de 51%. Um aumento dessa magnitude prejudica não somente a população, mas também a indústria, que repassa o aumento ao consumidor.

Outro fator relevante para explicar o aumento geral dos preços nos últimos anos foi o combustível. Em 2014, a Petrobras decidiu não repassar ao consumidor o aumento no preço do petróleo. Isso aumentou o tamanho de sua dívida, que já somava R$130 bilhões no primeiro semestre de 2014. Ao longo do ano passado, o preço da gasolina subiu 20,1%, e o do etanol 29,63%. Os aumentos bruscos refletiram diretamente no transporte rodoviário e nos custos dos produtores, que também repassaram os gastos ao consumidor.

Por fim, a alta do dólar colaborou para aumentar a inflação no Brasil. O aumento da taxa de juros americana provocou uma fuga de capitais em outros países do mundo, incluindo o Brasil, para realocação nos Estados Unidos.

Além disso, o desaquecimento da economia chinesa impactou negativamente as exportações brasileiras, já que 20% do que exportamos no primeiro semestre de 2015 foram para aquele país.

Do ponto de vista interno, as incertezas políticas e as diretrizes econômicas adotadas nos últimos anos reduziram a capacidade do país em atrair capital estrangeiro.

Com o dólar mais valorizado, componentes importados utilizados na produção industrial tendem a ficar mais caros, levando o produtor a repassar o aumento dos custos ao consumidor. O impacto também pode ser visto em produtos exportáveis. Como se torna mais rentável para o produtor exportar, a manutenção desses produtos no mercado interno só é desejável a um preço maior.

Em meio a perspectivas otimistas e pessimistas, fica a expectativa de que a inflação perca força em relação a 2015. Essa expectativa de desinflação vem atrelada à queda no consumo das famílias, em parte motivada pela alta taxa de juros. Um dos impactos diretos da queda do consumo privado é a diminuição do conjunto de bens e serviços finais produzidos no Brasil, o Produto Interno Bruno (PIB). Diante do agitado quadro político e econômico do país, o que resta ao consumidor é manter-se atento às próximas mudanças na conjuntura e na condução do país.
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